sábado, 26 de fevereiro de 2011

Por uma educação mais humana....

Por uma educação mais humana....

Ronaldo Lima
Neuropedagogo e Psicanalista




O Governo Federal, ano passado, fez publicidade a fim de “valorizar” o magistério.  Numa delas, depoimentos de pessoas oriundas de países desenvolvidos, destacam o professor como o profissional responsável pelos avanços sociais e econômicos de seus países. Para mim, esse comercial nada mais é do que uma demagogia de extremo mau gosto. Ainda essa semana, o Ministério da Educação fixou o novo piso salarial em R$ 1.187,97 para docentes de nível médio que cumprem carga horária de 40 horas e R$ 593,98, para os professores que cumprem 20 horas. (http://g1.globo.com/brasil/noticia/2011/02/mec-anuncia-hoje-aumento-de-16-no-piso-de-professor.html) como se o valor fosse algo realmente significativo, apenas R$ 48,00 acima do novo salário mínimo.
A educação, principalmente pública, é apontada pela sociedade como principal pilar de qualquer país. O Brasil, como estado subdesenvolvido ( ou emergente como alguns preferem dizer) continua maquiando o sistema educacional.
O que nos mantém na escala de subdesenvolvidos não é, como muitos imaginam, a economia do país. Esse por sinal vai muito bem (http://economia.ig.com.br/brasil+chega+a+pib+per+capita+de+us+10+mil+em+2010+e+agora/n1237730753533.html) o que nos mantém socioeconômica e tecnologicamente abaixo dos outros é a maneira de pensar. Ainda agimos como colonizados, nos sentimos dependentes do outro, valorizamos a cultura externa, nos espelhamos no “outro”.  A chave para mudar a mentalidade do povo é a educação aliada á cultura.
No que diz respeito á cultura, a massa insiste em ligar a TV para acompanhar a vida alheia nos realit shows, consumir a miséria humana como entretenimento nos jornalismo policial, ou se alienar com o futebol brasileiro e seus atletas milionários. Esses dias um aluno me perguntou por que nós, brasileiros, continuamos como um país subdesenvolvido. Após tecer os comentários acima, discutimos por que poucos vêem a programação das emissoras públicas. Um deles me disse que não assistia a TV Cultura porque era muito “chata”.
A educação escolar vive uma crise de paradigma (modelo). De um lado a visão tecnicista camuflada por “competências e  habilidades” e, na ponta do iceberg, os professores tendo que lidar com problemas comportamentais que, embora gerado, na maioria das vezes, por questões externas, desembarcam na escola trazendo, no mínimo, desconforto   á todos que convivem com isso.
Não sou contra  o desenvolvimento de habilidades cognitivas dos estudantes avaliados nos testes aplicados pelo governo como IDEB E PROVA BRASIL. Exercitar essas habilidades é uma das funções da escola. Esse tipo de atividade esta diretamente ligada ao desenvolvimento cerebral, criando novas conexões neuronais. Entretanto, focar a escola em desenvolver essas competências, torna essa instituição em “um fim em si mesma”. O sistema educacional precisa romper barreiras, caso contrário, nossos estudantes podem até interpretar textos, identificar gêneros literários, mas não saberão usá-los para o desenvolvimento social.
Tomando a escola pública como foco, sabemos que nossos alunos convivem com drogas, violência física e emocional, conflitos familiares, fome, problemas econômicos (só para citar alguns). O que procuro entender é o motivo que nos leva a ignorar essas vivencias quando estamos na sala de aula, quando muito, citamos de forma vaga. Nossa sociedade é baseada em classes, e que essas estão em constante conflito. O primeiro ponto para mim é esse. O professor parece não ter consciência de classe, ou pensa que demonstrar isso em períodos de greve é o suficiente. Mas quanto á seu trabalho, costuma dizer amém a tudo que vem de cima para baixo. Se você se considera educador, de qualquer nível, seja honesto consigo mesmo, já se perguntou PARA QUE SERVE O CONTEÚDO QUE TRABALHO COM MEUS ALUNOS?
Quando o coordenador (para quem tem um) ou o discurso pedagógico que lhe solicita re-significar o conteúdo, isso, traduzindo, você educador precisa adaptar, ou até mesmo, modificá-lo ajustando-os ás necessidades do educando. Existem profissionais, e muitos, que seguem os capítulos dos livros didáticos, como se fossem uma bíblia. Se você fica desesperado quando não encontra o livro do mestre, preocupe-se. Seguir aquelas aulas planificadas pelo autor, e os planos de curso é perigoso. Aquilo é parâmetro, serve de exemplo, mas que não deve ser copiado na integra e sim refletido. Fazer isso é trabalho nosso, o coordenador nos auxilia, mas o parte final é responsabilidade nossa.
Incomoda-me ver textos em sala que falam de animais, fauna, não que isso deva ser ignorado, mas percebo que nossos alunos precisam entender questões como:  pobreza e desigualdades, como o alcoolismo entra na vida das pessoas, função dos políticos, participação do cidadão na sociedade, relacionamentos interpessoais, importância da família e dos amigos.... Bem, se temos que desenvolver todos aqueles descritores de leitura, escrita, alfabetizar, devemos tratar nossos jovens como estudantes (capazes de compreender questões complexas e interagir com elas) e não como alunos (ser sem luz). Se precisarmos usar texto na sala, ofereça um conteúdo mais humanizado, que aborde reflexões sobre as experiências cotidianas vivenciados por eles. Sempre notamos nas conversas paralelas, temas do interesse deles, fatos que estão marcando a sua vida.
No currículo comum, podemos focar as relações de poder entre as pessoas, as características das diversas classes sociais, a origem das desigualdades socioeconômicas, exploração no mercado de trabalho etc. (http://www.oimpacto.com.br/mundo/opositores-e-simpatizantes-de-mubarak-entram-em-conflito-na-capital-do-egito/). Se o tema da aula for globalização, você pode abordar questões como: de exemplos das grandes diferenças socioeconômicos  existentes entre ricos e pobres no mundo atual, de que forma a globalização acentuou as desigualdades sociais os países? Como a globalização tem acirrado as desavenças entre os países, a educação tem sido apontada como uma condição fundamental para romper a condição de subdesenvolvimento da maioria dos países. Em sua opinião, como a educação pode cumprir esse papel? Isso é focar o ser humano na sua existência, em sua singularidade.
É papel nosso levar os estudantes a pensar sobre a vida, o que estão fazendo no mundo e como conviver com o outro nessa sociedade onde a complexidade está no cotidiano e adentra a escola, sem pedir licença. O desafio é nosso!

2 comentários:

  1. A educação brasileira, resumindo é uma dura realidade que passa por serios problemas em todos os sentidos um deles (falta de verba).É impresssionante como os poderes publicos parece não estar nem ai com a educação, preferem investir milhões ou bilhões nõa sei ao certo, em carros alegoricos para o carnaval depois de um incendio isso é um absurdo.Isso só mostra a importancia que a educação tem para os poderes publicos(pra não dizer o contrario).Há e mais uma vez gostei muito do seu texto.abração.

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  2. Ronald,

    Parece que culpabilizar o docente pelo fracasso da educação está no nosso inconsciente coletivo. Vc apontou uma séries de nuances que perpassam a educação e no final como que num grito de alerta puxou a orelhas dos professores. Não esqueça q os docentes assim como qualquer outro cidadão é fruto de um meio e como tal reage aos estimulos gerados, criticamente ou aliendamente, e que nem sempre nessa "aldeia global" que vivemos conseguimos ter em tempo hábil para o correto entretenimento do que nos rodeia. Sem falar das questões politicas e operacionais da nossa educação, fruto de um modelo arcaico e desencorajador.
    Não vou ficar aqui a retrucar o q disse, posso cair na armadilha que sinceramente vc caiu nesse texto( na minha humilde opinião), no entanto, reconheço a relevância de pessoas como vc está refletindo sobre o papel da educação em nossa sociedade.
    Saudades..
    Cheiro!!!!!!!!!!!!!!

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