sábado, 19 de fevereiro de 2011

Deixe a raiva secar.



Mariana ficou toda feliz porque ganhou de presente um joguinho de chá, todo azulzinho, com bolinhas amarelas. No dia seguinte, Júlia sua amiguinha, veio bem cedo convidá-la para brincar. Mariana não podia, pois iria sair com sua mãe naquela manhã. Júlia então, pediu a coleguinha que lhe emprestasse o seu conjuntinho de chá para que ela pudesse brincar sozinha na garagem do prédio. Mariana não queria emprestar, mas com a insistência da amiga, resolveu ceder, fazendo questão de demonstrar todo o seu ciúme por aquele brinquedo tão especial. Ao regressar do passeio, Mariana ficou chocada ao ver o seu conjuntinho de chá jogado no chão. Faltavam algumas xícaras e a bandejinha estava toda quebrada. 
Chorando e muito nervosa, Mariana desabafou:
-
 Está vendo, mamãe, o que a Júlia fez comigo? Emprestei o meu brinquedo, ela estragou tudo e ainda deixou jogado no chão. Totalmente descontrolada, Mariana queria, porque queria, ir ao apartamento de Júlia pedir explicações. Mas a mãe, com muito carinho ponderou:
-
 Filhinha, lembra daquele dia quando você saiu com seu vestido novo todo branquinho e um carro, passando, jogou lama em sua roupa?
Ao chegar em casa você queria lavar imediatamente aquela sujeira, mas a vovó não deixou. Você lembra o que a vovó falou?
-
 Ela falou que era para deixar o barro secar primeiro. Depois ficava mais fácil limpar. Pois é, minha filha, com a raiva é a mesma coisa.
Deixa a raiva secar primeiro. Depois fica bem mais fácil resolver tudo. Mariana não entendeu muito bem, mas resolveu seguir o conselho da mãe e foi para a sala ver televisão. Logo depois alguém tocou a campainha. Era Júlia, toda sem graça, com um embrulho na mão. Sem que houvesse tempo para qualquer pergunta, ela foi falando:
-
 Mariana, sabe aquele menino mau da outra rua que fica correndo atrás da gente? Ele veio querendo brincar comigo e eu não deixei.
Aí ele ficou bravo e estragou o brinquedo que você havia me emprestado. Quando eu contei para a mamãe ela ficou preocupada e foi correndo comprar outro brinquedo igualzinho para você. Espero que você não fique com raiva de mim. Não foi minha culpa.
-
 Não tem problema, disse Mariana, minha raiva já secou. E dando um forte abraço em sua amiga, tomou-a pela mão e levou-a para o quarto para contar a história do vestido novo que havia sujado de barro. Nunca tome qualquer atitude com raiva. A raiva nos cega e impede que vejamos as coisas como elas realmente são. Assim você evitará cometer injustiças e ganhará o respeito dos demais pela sua posição ponderada e correta.
Diante de uma situação difícil. Lembre-se sempre: Deixe a raiva secar.

O Nascer da violência...



Na semana passada foi vinculado nos jornais que policiais da cidade de Feira de Santana, Bahia, espancaram um menor que estava guiando uma moto. (http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2011/02/menor-e-brutalmente-agredido-por-policiais-em-feira-de-santana-bahia.html) Bem, as imagens realmente chocam pela truculência dos policiais, entretanto, esse fato, como outros envolvendo ações policiais, é um dos pontos que tenho refletido muito nessa semana. Não sou a favor do uso da força para impor um “falso respeito”, porque atos como esses só reforçam e multiplicam o ódio que parte da sociedade possui pelo sistema policial. Tenho alunos que, ora querem ser Pm’s por acreditarem que a função deles é matar, ora porque serão temidos pela sociedade. Ainda outros não gostam da profissão por presenciarem a violência com que parte da policia age.
É perceptível nos telejornais que boa parte das notícias destaca coisas ruins, tragédias, violência entre outros. No fim, terminam com esporte, como se essa diversão levasse o telespectador á “esquecer” o mundo ruim pintado no jornal. Não quero dizer com isso que a sociedade não conviva com problemas que precisam ser mostrados, mas a massificação da violência em todos os seus estágios, pela imprensa televisiva, tem como objetivo vender a miséria humana como se fosse um artigo de consumo e não como fatos a serem discutidos e repensados por quem visualiza esse tipo de informação.
No que diz respeito ao incidente envolvendo a PM de Feira, há fatos a serem discutidos. As informações afirmam que era um menor que conduzia o veiculo. É conhecido de todos que um dos requisitos para tirar a habilitação veicular é ter mais de 18 anos, isso mostra que o menor não possuía a CNH, jaz, cometia uma infração ele, por ser menor e dirigir um veiculo automotor, e o dono da moto por permitir que o menor a guiasse. Isso sequer foi incluído nas reportagens que pesquisei para escrever esse artigo. Esse detalhe nos faz pensar qual o papel dos pais na vida dos filhos. Quem trabalha com crianças e adolescente percebe como muitos desses jovens vivem abandonados pelos pais. Seus progenitores  não estão disponíveis para acompanhar a vida dos seus filhos. Ainda semana passada, conversando com uma colega, esta  me relatou ter ouvido de um pai que “professor não devia ter férias”. Percebe-se que a transferência da responsabilidade paterna aos educadores tem sido uma espécie de fuga projetada por pais que não querem estar disponíveis à seus rebentos.
A lei prevê crime de Abandono de Incapaz, aos pais que não prestam assistência aos filhos. Imagine para uma criança, perceber que na vida de seus pais ele representa algo impróprio, inconveniente. É assim que os filhos que não recebem o carinho dos pais se vêem. Não há nada mais doloroso para um jovem ver que seus colegas têm uma relação de carinho com os pais quando em seu lar, lhe é negada à afetividade familiar, muitas vezes dedicada a amantes ou pessoas que não compartilham laços consangüíneos. Não acredito que “família” seja composta apenas dos parentes, entretanto, a falta de amor leva os filhos a buscar a atenção lhe negada em ambientes externos ao familiar. Assim sendo, os jovens, que naturalmente já são vulneráveis, são seduzidos por falsas amizades, adentrando o mundo da marginalidade.
Percebo que a Pm não é bem vista pela sociedade pelos fatos citados acima. Sabemos que a corporação vez por outra envolve-se em crimes, acoberta familiares e amigos infratores, abusa do poder e medo gerado pela farda e armas. Mas hoje quero falar de uma outra PM. (http://passapalavra.info/?p=25554) Aquele que leva com seriedade seu trabalho trata a população com o devido respeito e dignidade, mas, por conta dos atos irresponsáveis de alguns tantos colegas, são vistos com repúdio. Coloque-se no lugar de um profissional que não deve comentar em que trabalha por temer a segurança de sua família, que chega numa lanchonete e esse esvazia-se, as crianças trocam de passeio para não cruzar com eles, as pessoas lançam olhares de nojo, tratando-os como facínoras. Os Pm’s vivenciam essa violência todos os dias ao sairem para cuidar da relativa segurança. Isso traz conflitos emocionais que perturbam a mente de qualquer ser humano.
Para que eu esteja na minha casa escrevendo esse artigo, é necessário que a polícia esteja nas ruas, para que você vá ao seu trabalho sem que ninguém o ataque na rua é necessário a existência da força policial. E mais, existe um submundo do crime que a nós é totalmente ignorado. Sabemos do que a imprensa nos informa, mas não temos noção dos elementos presentes na obscuridade social. A Pm lida com isso todos os dias, e a sociedade, enxergando-a  como vilã só torna mais complexo a sua atividade, que já não é das mais confortáveis. Não quero aqui justificar a violência com que o menor foi tratado, mas precisamos pensar sobre que tipo de relacionamento estamos desenvolvendo com as pessoas. Não dá para usar o abuso de poder de parte da PM como bode expiatório das nossas fugas. Os pais fogem das responsabilidades educacionais, os amigos desaparecem quando a nossa conveniência torna os colegas desinteressantes, o amor esfria quando a rotina se instala. A violência começa quando nos tornamos ausentes na vida das pessoas, da nossa família, dos nossos amigos. Vivemos o nosso profissional como se fosse a coisa mais importante da vida, priorizando o trabalho e negligenciando o pessoal. A nossa vida só pode ser vivida por nós mesmos. Todo profissional é substituível, mas um pai, um filho, um amigo jamais.
Ronaldo Lima
Neuropedagogo e Pscanalista

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A mulher na musicalidade brasileira

A s músicas sempre foram um campo ideológico a ser observado. Por mais “inocente” que pareça, com sua poesia melodiosa, expressa um olhar sobre o cotidiano.
Tema de muitas canções, a mulher é homenageada, ou pelo descrita nas melodias brasileiras. No fim dos anos 50, com o movimento musical conhecido pro “Bossa Nova” não era retratada apenas como a  submissa “Amélia” do lar, e sim como centro das atenções sociais, cultuada como musa inspirando os sentimentos mais românticos. Percebe-se nas musicas de Vinicius de Moraes e Tom Jobim, (Luiza) (http://www.youtube.com/watch?v=gZitsN8I3CE&feature=related)
Na década de 70, com o impulso do movimento feminista, que buscava igualdade de direitos entre homens e mulheres, Rita Lee surge na música destacando uma mulher mais autônoma, dona do seu “destino”, (http://www.youtube.com/watch?v=tf_M-VsmuWs) antes designado pela igreja. Na década de 80 a mulher demarcou seu espaço na mídia discutindo qual seu papel na sociedade atual. Cantoras como Marina Lima, Joana, Simone, Elis Regina, só para citar algumas, retratavam uma mulher feminina ora submissa, ora romântica, mas sem  perder seus status. Na TV Marília Gabriela torna-se ancora do programa “TV MULHER” (http://www.youtube.com/watch?v=QgWes342g-U)  que abordava temas mais complexos do mundo feminino. Nos anos 90, Ana Julia de “Los Hermanos” a mulher ganha destaque a ser definida como uma pessoa a ser conquistada tendo ela, poder de escolha. (http://www.youtube.com/watch?v=-PArDXQX-4M).
Percebe-se no contexto descrito acima que os poetas brasileiros, ainda que machistas, retratavam a mulher um ser valorizado, por mais que esse conceito de “valor” seja totalmente discutível. Como baiano, não posso deixar de destacar como você, mulher contemporânea, é objeto de inspiração da nossa musicalidade. Salvo artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros, que compõe musicas com um teor audível, os pagodes, arrochas e outros ritmos deixam sua marca, ou melhor, dizendo, suas impressões. As letras desses ritmos descrevem uma mulher lasciva, que não se incomoda em servir de objeto de satisfação exclusivamente sexual, que vivem em busca de aventuras amorosas dependentes do gênero masculino para firma-se na esfera mais baixa da sociedade. A mulher existe sim, entretanto seu lugar não é pensar sobre sua intervenção social e sim praticar atos sexuais.
Para mim, o ápice da pornofonografia baiana, se da quando as mulheres mostram toda sua erotização nas coreografias infames. Bem , a prostituição é criticada por ser um ato “imoral” que atenta ao pudor. Vender o corpo é a escala mais baixa que o ser humano pode chegar, segundo os pudicos. Sinceramente, qual é a diferença entre uma profissional do sexo e as dançarinas de axé? Nenhuma! Ambas usam o corpo para estimular a libido masculina, com o agravante que a dançarina é vista como artista. Dia desses observei uma perola declamada por uma dessas mulheres frutas:
- depois que sair minha revista vou estar muito ocupada, a mídia vai estar muito em cima de mim!
Depois reclamam que nós homens somos machistas. O machismo perdura, entre outras coisas, porque a mulher educa o homem para ser o “dono, chefe” da sociedade. Esses dias um amigo comentou que estava num bar e, ao iniciar uma briga violenta gritaram logo:
- aqui não tem homem não é?
Bem, que motivos ele teria para se envolver num conflito que até então não lhe dizia respeito? só porque somos homens temos que estar resolvendo os problemas do mundo sozinhos? A mulher estimula o domínio masculino quando se permite SER OBJETO, e ainda reclama que vem sendo desvalorizada, desrespeitada. Para uma sociedade machista é conveniente que a mulher seja compreendida como subalterna, assim é mais fácil rotulá-la como incapaz, frágil e mantê-la no submundo intelectual privando-a de uma participação significativa na sociedade.
Concordo que a mulher contemporânea conseguiu seu lugar no panorama social. Após Michelle Bachelet no Chile,  Cristina Kirchner na Argentina, agora  o Brasil conta com mais uma   mulher na presidencia de um pais sulamericano. Entretanto, observou-se na ultima eleição presidencial brasileira, observou-se uma campanha promovida pelos partidos de direita e apoiada pela igreja católica e algumas evangélicas, que visavam achincalhar a imagem da candidata Dilma Russef. Panfletos e e-mails afirmavam que a presidenciavel iria legalizar o aborto, fechar os templos evangélicos até a sexualidade da candidata foi questionada.
O que passou despercebido diante da extrema maioria é que, a questão não era partidaria, alias atualmente, coligar-se ao PT esta longe de ser uma opção ideológica e sim empregaticia. O problema da candidata era o sexo dela. É dificil para o machismo admitir uma Senhora no comando de uma potência mundial. A Marina só nao foi atacada por estar em terceiro lugar nas pesquisas e, posteriormente, havia uma possibilidade dos seus eleitores migrarem para o candidato tucano.
Por isso, cabe a mulher não perder sua feminilidade tratando-se com mais dignidade. É romântico pensar  que alguns homens mudem sua visão a respeito do universo sexual, tendo a  mulher como simples objeto de prazer, despida de sentimentos e anseios, quando a mesma, transparece nao incomodar-se com a situação. Acredito, e sou um desses, que existem homens que apreciam a mulher autonoma, dona de seu nariz, que demarca seu espaço com inteligência, competência  e humanidade, sem expor sua sexualidade como se essa nao fosse um dos comportamentos mais íntimos, e pessoais do ser humano.
Reprimir essas músicas que tanto vulgarizam a mulher e o amor, é uma saida tão óbvia quanto os apelos sexuais nas letras das mesmas. Entretanto, não é atitude mais eficaz. Percebe-se que esse “arcevo cultural” faz parte de uma grande indústria e, como todo empreendimento capitalista, os interesses econômicos tem voz e vez, a própria justiça parece não se incomodar com a eroticidade efervescente nos pagodes e funks. Por isso faz-se necessário refletir sobre o significado dos refrões das músicas, questionando-se quanto ao perfil feminino  descrito por elas, se esse reflete os desejos, as necessidades da mulher atual e, mais importante ainda, compreendendo como é nocivo consumir essa cultura que nada tem haver com a autêntica musica brasileira onde, destaco Vanessa da Mata ( só para citar uma)[ http://www.youtube.com/watch?v=BcA3hoVPThA]  que com suas composições, sempre cheias de inteligência  retrata a verdadeira mulher brasileira.
Ronaldo Lima
Neuropedagogo e Pscanalista
Artigo dedicado á Jordana Moraes.